sexta-feira, 10 de maio de 2013

Agora um poema.

as rosas falam sim (quando muito lhes interessa)

por você faço yoga e outras drogas.
fica comigo, prometo que te sigo,
toca guitarra, me deixa ser sua groupie descabelada,
não faça vocal, você não sabe cantar.


me joga na parede, me chama de astronauta que é comum de dois
avisa sua mãe que você vai demorar.
dorme mais um pouco, ainda não é dia,
meu nariz tá entupido, eu vou levantar.


me dá lição de moral
me ensina a ser legal
mente que não vai embora
foge como se eu tivesse catapora


te desenhei, mas foi de esferográfica.
saiu tudo errado.
enquanto você sofria calado,
eu sorria e me acabava na goiabada. 


quando Cumbica não é longe o suficiente
covardes voam pro nascente-oriente.



Achei essa imagem sensacional num Tumblr e agora não lembro qual. Quem souber, enlighten me.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Bunda não é palavrão.

Meu pai conta duas histórias interessantes envolvendo filha (oi!) e palavrão. Na primeira, ele consertava, com seus dedinhos de ogro, alguma peça de equipamento eletrônico doméstico - porque engenheiros acham Assistência Técnica inútil e pensam que conseguem consertar tudo sozinhos - enquanto Jujuzinha, dois anos, brincava ali por perto. Algo não saiu como esperado; alguma pecinha escapou aos delicados dedos de papai, que encheu a boca e disse MERDA. Jujuzinha pareceu inabalável. Em questão de segundos, porém, caiu-lhe das mãozinhas um bloco desses de construção feitos de madeira (os quais, pra minha alegria, ainda existem nas lojas de brinquedos!) e foi ela a dizer: MÉDA.

Na segunda história - aqui quero me redimir e pedir desculpas por ter falado de mim mesma em terceira pessoa, mas é que Jujuzinha e eu estamos cada dia mais distantes, esse ano faço 35 - éramos nós no Morumbi, durante o tempo regulamentar da fatídica final entre São Paulo e Vélez Sarsfield, quando entrou em campo uma sombra daquele time que eu gostava, campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes nos dois anos anteriores. Se com dois anos meu pai me assistiu aprender a dizer palavrão, e se com 35 ele tem certeza absoluta de que sei, aos 15 ele se deu conta do meu vasto repertório. Não, eu não xinguei só Palhinha, vesgo, autor do não-gol da derrota. Lembro-me de ter ofendido mamães de Junior Baiano e André também. Papi ali estava, embasbacado, não sei se com o jogo ou comigo. Palhinha? Quando alguém menciona esse jogo, ele só consegue se referir às cobras e lagartos que escutou saírem da boca da sua filhinha.

Hoje ele troca, com certa habilidade, fraldas da neta, filha de sua filha boca-suja, ritual batizado de "trocar a bunda". Nas primeiras vezes, engasgou: achava que eu não podia saber que ele dizia "bunda" na frente de nenê. Assegurei: "pai, bunda não é palavrão". Bunda é parte da anatomia humana; foi-se o tempo em que a gente chamava traseiro de bumbum. Hoje, me parece que "bumbum" é como o Gugu, no saudoso programa Viva a Noite! (lua de neon, quem lembra?), chamava o derrière das hoje senhoras Gretchen e Rita Cadillac, atrações recorrentes dos intervalos na competição "homens vs. mulheres". Simplificando, "bumbum" é brega. Eu é que não tenho bumbum: tenho bunda. 

Minha filha também tem bunda. Na hora do banho, ela já sabe: lava os cabelos, o rosto, os braços, as pernas, as mãos, os pés, o pescoço, os sovacos (é, sovacos) e a bunda. Aprendeu comigo, com o avô, com as avós e com o jacaré: aquele que comprou cadeira e não tinha costas pra encostar, daí depois comprou sofá, sem ter bunda pra sentar.


 Imagem daqui.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

De como o Tricolor não des-partiu meu coração.

No estádio Cícero Pompeu de Toledo, vulgo Morumbi, há (ou havia) pelo menos duas cadeiras cativas com nome de Eliezer. Correspondiam a Armando Pai e Armando Filho; acredito que o objetivo do pai fosse mesmo que o São Paulo Futebol Clube fosse acompanhado pela família através das gerações. Com alguma sorte, daqui a pouco levaremos a quarta geração ao campo, deixa só Ninoca completar uns três aninhos a mais. E talvez nas arquibancadas, já que Armando Filho enjoou da burocracia tricolor, cheia de dedos com as tais cadeiras especiais. 

Confesso que, antes de subir às arquibancadas do setor azul (que são vermelhas, num desses paradoxos tricolores), ontem, cantei vitória antes do tempo. Mentalmente, porém cantei. Formulei na minha cabecinha morena e verborrágica todo um texto explicando de como uma partida de futebol pode (ajudar a) curar um coração partido. Adoro futebol. Adoro quando, depois de caminhar pelas laterais do estádio e escolher por onde vou entrar, o gramado iluminado se descortina aos poucos, na medida em que me aproximo do acesso às cadeiras. Adoro ser mais uma na multidão pretobrancovermelha. Tinha certeza, cá dentro, que após duas semanas cansativas e que mais pareceram dois meses, de espera e de angústia que culminaram num coraçãozinho sobre o qual alguém dançou sapateado, o Morumbi lotado (não tinha mais ingresso de arquibancada pra vender!) me acalentaria.

Palavras, palavras. Todas dentro da minha cabeça. Um texto que não vai ser redigido; uma carta que foi escrita mas não será enviada. Lúcio, não parta meu coração (de novo). Ganso, desça a serra de volta, não te quero mais. A torcida não vibrou, não acreditou, não acalentou. O problema, porém, foram vocês, e não nós. Faltou coragem. Faltou verdade. O que é um relacionamento sem coragem e sem verdade, além de algumas palavrinhas escritas ao sabor do momento, e ao bel prazer da tecla delete? Como proceder quando há algo errado não aqui, mas aí? Te dei amor, Tricolor. Cadê você, que não responde?

Existe volta, além do jogo de volta?

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Das primeiras palavras.

Cinco (ou seis) blogs depois, aprendi que a primeira postagem é sempre a mais difícil. E a que tem menos graça. E aquela pra onde você volta anos mais tarde, quando tá "tentando entender" e não há cristo no mundo que consiga te explicar.

Daí digo que abri esse blog porque me sinto como Cameron, quando gostaria de me sentir como Ferris. E, por enquanto, fica assim.

http://www.tumblr.com/tagged/ferris%20bueller?language=fr_FR