segunda-feira, 6 de maio de 2013

Bunda não é palavrão.

Meu pai conta duas histórias interessantes envolvendo filha (oi!) e palavrão. Na primeira, ele consertava, com seus dedinhos de ogro, alguma peça de equipamento eletrônico doméstico - porque engenheiros acham Assistência Técnica inútil e pensam que conseguem consertar tudo sozinhos - enquanto Jujuzinha, dois anos, brincava ali por perto. Algo não saiu como esperado; alguma pecinha escapou aos delicados dedos de papai, que encheu a boca e disse MERDA. Jujuzinha pareceu inabalável. Em questão de segundos, porém, caiu-lhe das mãozinhas um bloco desses de construção feitos de madeira (os quais, pra minha alegria, ainda existem nas lojas de brinquedos!) e foi ela a dizer: MÉDA.

Na segunda história - aqui quero me redimir e pedir desculpas por ter falado de mim mesma em terceira pessoa, mas é que Jujuzinha e eu estamos cada dia mais distantes, esse ano faço 35 - éramos nós no Morumbi, durante o tempo regulamentar da fatídica final entre São Paulo e Vélez Sarsfield, quando entrou em campo uma sombra daquele time que eu gostava, campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes nos dois anos anteriores. Se com dois anos meu pai me assistiu aprender a dizer palavrão, e se com 35 ele tem certeza absoluta de que sei, aos 15 ele se deu conta do meu vasto repertório. Não, eu não xinguei só Palhinha, vesgo, autor do não-gol da derrota. Lembro-me de ter ofendido mamães de Junior Baiano e André também. Papi ali estava, embasbacado, não sei se com o jogo ou comigo. Palhinha? Quando alguém menciona esse jogo, ele só consegue se referir às cobras e lagartos que escutou saírem da boca da sua filhinha.

Hoje ele troca, com certa habilidade, fraldas da neta, filha de sua filha boca-suja, ritual batizado de "trocar a bunda". Nas primeiras vezes, engasgou: achava que eu não podia saber que ele dizia "bunda" na frente de nenê. Assegurei: "pai, bunda não é palavrão". Bunda é parte da anatomia humana; foi-se o tempo em que a gente chamava traseiro de bumbum. Hoje, me parece que "bumbum" é como o Gugu, no saudoso programa Viva a Noite! (lua de neon, quem lembra?), chamava o derrière das hoje senhoras Gretchen e Rita Cadillac, atrações recorrentes dos intervalos na competição "homens vs. mulheres". Simplificando, "bumbum" é brega. Eu é que não tenho bumbum: tenho bunda. 

Minha filha também tem bunda. Na hora do banho, ela já sabe: lava os cabelos, o rosto, os braços, as pernas, as mãos, os pés, o pescoço, os sovacos (é, sovacos) e a bunda. Aprendeu comigo, com o avô, com as avós e com o jacaré: aquele que comprou cadeira e não tinha costas pra encostar, daí depois comprou sofá, sem ter bunda pra sentar.


 Imagem daqui.

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